MOLEIRA

Um blog sobre o contidiano de um cara a beira de vinte e três horas em volta do sol! Por hora é isso só.

08 julho 2006

Horas e segundos

Estava preocupadíssimo com o trabalho, sabia que tinha esquecido alguma coisa, lembrou que o sentimento de esquecimento, já vinha como uma pedra no sapato há muito tempo. O sino de domingo da igreja bateu. Bateu uma aflição e levantou-se da cama, escovou os dentes lavou o sono do rosto, se vestiu com um de seus ternos, calçou o sapato, olhou para a mulher que ainda dormia, percebeu que depois de anos, a expressão da mulher não era a mesma, agora, olhos fundos e escuros dominava a beleza, boca semi-aberta, expressão de tristeza. Pensou isto tudo entre o “tic tac” do relógio, o “tac” o assustou e o fez lembrar dos compromissos. Maldito seja eu, que me distraio atôa, pensou.
Chegou no escritório com uma meta, lembrar do esquecido, ou perdido, perdido na memória ou na mesa, talvez no banheiro ou na gaveta, quem sabe um documento ou até uma caneta? Pensou em tudo o que podia ser, começou a vasculhar. Passou duas horas e meia no computador, nenhum arquivo, rearquivou suas três gavetas e nada, nadou em cima de sua mesa, seus olhos se encheram de desespero, passou a mão tremula em baixo do armário de lanche, só poeira, olhou todos os arquivos mortos, sem sucesso, os amaldiçoou, ignorou os toques do telefone, telefonou pro chefe que estava na pescaria, foi esculachado por nada, deitou-se no carpete, o desespero nasceu em seus olhos e desaguou. Mas ainda não acabou, insistiu. E foi procura a cura de sua fissura no banheiro e... Nada!
Voltou à mesa sem lágrimas nos olhos, ao invés, havia ódio fundido com dúvida, desespero e ânsia. Chutou a cadeira, lançou na parede o monitor, sua raiva não passava, isolou tudo o que estava na mesa, deitou sobre ela, sentiu algo lhe incomodando nas costas, pegou olhou para o alvo e lançou. Viu rodando e cortando o ar em rapidez alucinante, ao rodar conseguiu ver que era o porta retratos, nele a imagem de sua filha e mulher abraçadas, sem ele, pois na época estava ocupado para ir à reunião de família naquele domingo do ano que passou e ficou. Em cheio no alvo, o estrondo foi assustador, sustou sua dor, chorou novamente, o relógio na parede já marcava duas horas. Lembrou-se que no dia anterior foi seu aniversário de dezesseis anos de casamento, lembrou que sua filha marcou um almoço para comemorar seu aniversário de 15 anos, mas já eram duas horas, e se deu conta de que seu passado não tem passado, os momentos bons, eram relíquias, estavam mais para peça de museu, o almoço estava marcado para onze horas, o sítio era duas horas de viagem, ao todo cinco horas de atraso e no meio de tantas horas, houve 5 segundos. Cinco segundos do nono andar ao chão.

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