Menino mau

Na varanda da casa o menino brincava alegre com seu cão peludo e grande, a grama verde dava coloração de alegria quando contrastava com as cores de flores inúmeras e raios do sol, sua roupa branca e azul deixava a imagem parecendo uma pintura de um artista alucinado esquecido da realidade. O rosto angelical do garoto fora surpreendido pela voz doce da mãe o chamando para tomar o suco natural de laranja, ele não vai até ao suco, então o suco vem até ele transportado pela empregada, esta com cara de cansada, porém com um enorme carinho pelo menino.

A gangorra balançava, o cachorro com a língua de fora assistia a cena, um leite com chocolate e alguns biscoitos vem até o menino, o sol já ia se arrumando para partir. O final da tarde deixava o quintal da casa mais bonito ainda, aquilo tudo era bonito, no entanto do lado de fora do portão, um menino sentado cutucava os dedos do pé, a outra mão coçava a canela “russa” e ferida, o rosto maquiado de sujeira não escondia aqueles olhos esperançosos. Ele vegetava e viajava do outro lado das grades do portão, do outro lado da rua, do meio fio, da poeira do asfalto. Era Claiton quem assistia toda aquela bela cena do quintal, menino homem, apenas oito anos, trabalhador, sobrevivente, sustenta a mãe alcolatra, não estuda, vendedor de picolé, sem infância, menino inconformado, invejoso, rancoroso, menino mal, mau, mau criado, batedor de carteira, devia é ser preso, já tem quatorze anos, moleque, não tem mãe não!? Menino desinteressado, drogado, preguiçoso, maconheiro, fumador de crack, traficante, vagabundo, presidiário, ex-presidiário, perigoso, lixo da sociedade, resto, com vinte anos e não tomou juízo, ladrão, assassino, menino parado, cercado, espancado, morto, já era hora, é ruim de nascença, tem gente que nasce mau.



Morreu na frente de todos, em pleno sol do rio de Janeiro, mas não era João Hélio, não era de classe média alta, não era de banda pop, nem era artista de tv, era um menino mau, tem mesmo é que ser banido da sociedade que só quer paz.

(Desculpe a irônia, as plavras, o incorfomismo que incomoda, mas eu estou cansando dessa nossa hipocrisia e do meu silêncio).